quinta-feira, 17 de abril de 2008

Vinho faz bem ao coração?

Autor/Fonte: Dr. Cesar Vasconcellos de Souza
site: www.advir.com.br/saude/



O fígado é o principal órgão responsável pela metabolização do álcool. Em média se gasta uma hora para o fígado processar um drinque. Se uma pessoa permanece bebendo 3 drinques por dia o corpo mostra sinais de estresse pela sobrecarga do trabalho de eliminação do álcool. Após poucas semanas ingerindo 4 ou 5 drinques por dia as células do fígado começam a acumular gordura, e se a pessoa insiste em beber pode surgir hepatite alcoólica, com inflamação e destruição das células do fígado. Isto conduz à cirrose, que é uma doença irreversível e progressiva que leva à morte. Cerca de 15% das pessoas que insistem em beber após a hepatite alcoólica, desenvolve cirrose hepática.

Uma meta-análise (avaliação de vários estudos científicos feitos) indicou que as mulheres que bebem três ou mais drinques por dia têm 69% maior risco de câncer do seio do que as que não bebem. Outra meta-análise mostrou que as mulheres que tomam de 2 à 4 drinques por dia aumentam o seu risco de câncer do seio em 41%. Os estudos não distinguem entre o vinho, cerveja ou bebidas misturadas. Nenhuma delas é mais segura que a outra, diz o estudo. Em 1993 o Instituto Nacional para o estudo do álcool nos Estados Unidos (NIAAA) lançou um resultado de estudos que mostrou haver ligação entre bebedores pesados com câncer de esôfago, boca, laringe e cólon. (Hazelden Foundation, http://www.hazelden.org/ , “Research links alcohol abuse and breast câncer”, consulta feita no site em 21Março2006.)

O álcool prejudica o controle da diabete (doença em que o pâncreas não produz insulina – Tipo 1 – ou o corpo não consegue usar a insulina que é produzida – Tipo 2). Normalmente o fígado ajuda a elevar o açúcar no sangue liberando glicose. Isto não ocorre quando se ingere álcool porque a prioridade do fígado, neste caso, será eliminar o álcool. Assim, o álcool diminui o nível de glicose no sangue (hipoglicemia), o que complica para o tratamento do diabético. (Hazelden Foundation, idem acima.)

Abuso de álcool pode interferir na função sexual masculina causando infertilidade por atrofia das células produtoras de testosterona. Também pode prejudicar o desejo sexual e causar impotência devido à danos na enervação ligada à ereção. Nas mulheres o álcool pode alterar a produção de hormônios femininos, diminuindo a menstruação, infertilidade e afetando as características sexuais femininas.


No Brasil jovens bebem cada vez mais e mais cedo. Meninas consomem a mesma quantidade que meninos. Um estudo da UNESCO mostrou que 34,8% dos 50 mil estudantes brasileiros dos ensinos fundamental e médio (17,4 milhões de jovens) consomem álcool. Estudo recente feito pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) revelou que dos 48.155 jovens entrevistados, 41% já tinham usado algum tipo de bebida alcoólica entre 10 e 12 anos de idade. Aos 18 anos a maioria (81%) já tinha bebido. Nos anos 70 os jovens começavam a beber entre os 14 e 15 anos de idade na proporção de uma moça para cinco rapazes. Em 2004 o início passou a ocorrer entre 12 e 13 anos e garotas bebendo a mesma quantidade que os rapazes. Calcula-se que 80% das pessoas que morrem em acidentes de trânsito ou por homicídio são jovens. No estudo da Senad verificou-se que mais que 50% dos estudantes faltavam à escola e 54% estavam um ano atrasados em relação à série considerada ideal para a idade provavelmente devido ao consumo de álcool. (“Jovens estão bebendo cada vez mais cedo”, Sérgio Paula Ramos, psiquiatra presidente da Abead – Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas. http://www.abead.com.br/ , informação obtida no site em 21Março2006.)

Quanto ao fato de o vinho ser ou não benéfico, um estudo feito no Segundo Departamento de Cardiologia do Hospital Geral da Universidade de Attikon, na Grécia, (publicado em Dez 2005 pela revista científica Euro Journal Cardiovascular Prev. Rehabil., 2005 Dec; 12(6):596-600, com o título “Componentes polifenólicos de uvas vermelhas melhoram a função endotelial em pacientes com doença cardíaca coronária”), mostrou que tomar vinho tinto melhora a dilatação dos vasos sanguíneos atuando no endotélio (tecido da parede dos vasos). No estudo foi dado a um grupo de homens que tinham doença cardíaca coronariana um extrato de polifenol extraído de uvas vermelhas (600mg) dissolvido em 20ml de água e também deram os 20ml de água com um placebo (substância sem efeito nenhum) como se fosse o extrato da uva, assim que todos os homens pensavam que estavam tomando o extrato da uva e eles foram escolhidos ao acaso pelos pesquisadores. Usaram ultra-sonografia de alta resolução para avaliar a dilatação da artéria braquial após uma hiperemia provocada pela obstrução com um garrote no braço. Mediram a dilatação em jejum, e 30, 60 e 120 minutos após terem tomado o extrato ou placebo. O resultado encontrado foi que os que tomaram o extrato da uva tiveram realmente uma dilatação da artéria atingida após 60 minutos a qual foi muito maior do que o que ocorreria normalmente naquelas circunstâncias. Não ocorreu nenhuma mudança na dilatação da artéria dos homens que tomaram o placebo. Os pesquisadores concluíram que os componentes polifenóis de uvas vermelhas melhoram a função endotelial nos pacientes com doença cardíaca coronária. Estes resultados, segundo eles, poderiam provavelmente explicar, pelo menos em parte, os efeitos favoráveis do vinho tinto para o sistema cardiovascular. O álcool (etanol) é tóxico para o organismo humano, mas componentes da uva são saudáveis.