quinta-feira, 15 de maio de 2008

Uso excessivo do celular tende ao vício

Uma pesquisa realizada com japoneses revela que 4 em cada 10 entrevistados já levaram o celular ao banho para fazer ligações, mandar e-mails, ouvir músicas ou jogar. No Brasil circulam 123 milhões de aparelhos, ocupando o sexto maior mercado do mundo. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), houve um crescimento de 22% no número de aparelhos móveis em relação ao ano passado. Conforme estudo da Internet/Computer Addiction Services nos Estados Unidos, quase 20 milhões entre os pesquisados foram diagnosticados dependentes de tecnologia.
O psicólogo Osmar Reis Jr. afirma que por mais que o vício em celular seja incomum no Brasil, já existem pessoas que ficam transtornadas, ansiosas e saem do controle quando estão sem o aparelho. “Há pessoas que não conseguem dormir se não receberem pelo menos duas mensagens”, comenta. Segundo o psicólogo os maiores afetados tem sido os jovens já que o incentivo para ter um celular é maior entre eles. O resultado desse apelo é o vício.
Essa tendência tem se mostrado, por exemplo, no site de relacionamentos Orkut. Há comunidades como “Durmo com o celular do lado”, que possuem mais de um milhão de membros. A aluna do 1° ano de Ciências Contábeis, Thábatta Meyer, é uma dessas pessoas. “O uso excessivo pode se tornar um vício, porém o celular possui muitas utilidades importantes em um único aparelho”, defende. Despertador, mensagens, ligações, fotos, vídeos, mp3, rádio, internet, jogos, calculadora, agenda, calendário, são algumas das funções que Thábatta utiliza.
As funções do celular têm aumentado a cada dia. No Japão, por exemplo, recentemente foi lançado um aparelho que repele mosquitos emitindo ondas inaudíveis ao ouvido humano. Já outra invenção nipônica envia sinais para um equipamento que aromatiza ambientes. Nos Emirados Árabes uma companhia de telefonia móvel oferece um serviço que avisa a hora das orações diárias dos muçulmanos, mesmo se o usuário estiver em outro país. Na França, uma dupla de inventores romenos quer desenvolver um telefone detector de fumaça.
Cada vez mais cedo
O uso habitual do aparelho está começando desde cedo. As alunas do 3° ano do Ensino Fundamental, Anna Carolina Palato e Larissa de Almeida, são exemplos de crianças que já possuem celular. Ambas tem 8 anos de idade e desde os 6 anos utilizam desta tecnologia para fazer e receber ligações dos pais. Larissa ganhou do pai o aparelho que usa todos os dias no trajeto de ida e volta da escola para jogar. “Sinto falta quando estou sem meu celular”, comenta. Já Anna ganhou o primeiro telefone móvel do tio e atualmente tem um terceiro aparelho. Daniela Palato, mãe de Anna Carolina, não acha necessário que crianças tenham um telefone móvel, pois nem sabem como usá-lo corretamente. “É mais porque todo mundo tem, é bonitinho e tal”, assume.
Aos 15 anos, a aluna Rohane Ferreira acha que não viveria sem celular. Seu gasto mensal com os serviços do aparelho em média é de dezesseis reais, porém ela já chegou a gastar trinta em uma só ligação. Rohane explica que muitas vezes usa o celular sem necessidade, futilmente. “Já mandei mensagem de texto para uma pessoa com quem tinha acabado de conversar ou uma pessoa que sabia que chegaria em 2 minutos”, admite. Mesmo assumindo que não fica muito tempo longe do aparelho, não se considera viciada. “Não é vício, é uma questão de necessidade”, defende.
Assim como qualquer atividade realizada de forma excessiva e compulsiva, o celular pode trazer a sensação de necessidade iminente pelo seu uso, explica o médico especialista em neurologia Fabrício de Oliveira. “O uso de forma imoderada pode ser considerado um vício”, salienta Oliveira. “Isto depende do padrão habitual de comportamento de cada pessoa”. Como o uso excessivo parece ser comum na sociedade moderna, as pessoas não tomam consciência do vício, defende o psicólogo Reis. Para ele, o viciado em celular deve receber tratamento semelhante ao do viciado em drogas. “Tira-se o aparelho do indivíduo”, aconselha. “No começo é difícil, mas depois ele vê que é possível viver sem.” Ele também recomenda que para evitar a dependência, as pessoas não usem o celular o tempo todo. “Deixe para usar quando necessário, como quando for sair de casa”, aconselha.

Robson Fonseca